sexta-feira, 14 de abril de 2017

Viagem de Finalistas a Torremolinos: últimas conclusões




Confesso que quando vi, pela primeira vez, a notícia sobre os estudantes expulsos de um Hotel em Espanha, em primeiro lugar ocorreu-me logo a ideia de que seria uma notícia falsa. Mil estudantes expulsos? Isso não pode ser! É demais. Ah ah ah ah ah!!!! Que parvoíce!...Inventam tudo...

Logo no minuto seguinte, apercebi-me afinal que a notícia era verdadeira. Ui!!!

Depois da primeira reacção de incredibilidade, tive a segunda: "Caramba, que miúdos são estes? Está tudo parvo? Que tristeza, que..."

Mas, entretanto, veio a terceira reacção. Apercebi-me depois que há uma história mal contada. 



Sim, houve quem fizesse estragos. Sim, concordo que partir uma parede, arrancar dois candeeiros, mandar colchões pela janela (ainda não se percebeu se isto dos colchões de facto aconteceu, mas é verdade que não seria a primeira vez), esvaziar um extintor e colocar uma tv na banheira, são excessos. É demasiada euforia. 

Mas será que era motivo suficiente para o dono do Hotel recambiar tudo (mais de mil pessoas) para casa e exigir 50.000€ pelos danos? 
Que candeeiros eram aqueles? Que colchões? Que...


Depois, veio a parte, já da praxe, dos comentários nas redes sociais. Fiquei ainda mais estupefacta.

Que fácil é crucificar em praça pública!!! Que fácil é apontar o dedo e pôr culpas nos outros!!! Que fácil é generalizar!!! 




Pelos vistos, na opinião de muitos, os portugueses são uma vergonha, esta juventude está perdida (há 25 anos já eu ouvia isto) e a culpa é dos Pais e dos Professores! Pronto. Está o assunto resolvido. Era mandá-los todos por uma ribanceira abaixo ou partir-lhes uma colher de pau nas costas...


Os miúdos, hoje em dia, afinal, são todos uns vândalos mimados e mal educados, os pais são todos uns incapazes, que não querem saber dos filhos, têm todos a mania que são ricos e ainda por cima são todos burros! Já está. 

Parece que ninguém sabe (alguns não sabem mesmo, é certo) que o comportamento do miúdos em grupo não é o mesmo do que sozinhos. Eu cá parece-me que até os adultos são assim. 


Esta situação veio, na opinião de muitos, provar que todos os Pais deste país são uma vergonha.

Eu, que sou mãe, e que me esforço todos os dias por incutir bons valores, regras e educação aos meus filhos, afinal não sei o que estou a fazer. Se um dia o meu filho decidir pela sua cabeça infringir regras, partir, roubar ou matar, a culpa vai ser sempre minha (ou dos professores). 

Nem sei se hei-de dar-lhes agora os parabéns pelas boas notas escolares que tiveram, porque se calhar estou a mimá-los demais. É capaz de não ser boa ideia. 
No meu tempo, os meus pais não me davam parabéns por isso. Verdade. Era a minha obrigação (agora não estou a ironizar). Eles só se manifestavam se eu tivesse uma nota menos boa. O que era muito agradável, lembro-me (agora sim, a ironia). Quando tinha notas altas (que as tive durante vários anos e muitas vezes), nem uma palavra. Sentia-me bastante feliz com isso, de facto.

Portanto, como gostei tanto, agora é melhor fazer o mesmo aos meus filhos. Agora cá parabéns... Entrar no Quadro de Honra, se calhar ainda é motivo de levarem umas lambadas, pois podiam ter feito melhor. 

Mediante muitos dos comentários que vejo, os Pais portugueses são burros. Tótós. Os sacanas dos Pais deste país pensam que os filhos são todos santos, mas a verdade, verdadinha é que TODOS os filhos, são umas bestas, uns bandidos. Andamos todos a dormir, Pais deste país!!!

Até posso entender as divagações de quem não é Pai. Mas tenho alguma dificuldade em entender Pais que atiram pedras a outros Pais. Calma. "Lá chegarás", quando os teus filhos chegarem à idade "parva" e começarem a fazer disparates e a irem contra aquilo que lhes ensinaste. Ou se já lá chegaste, pensas que te safaste? Provavelmente, não chegaste foi a ter conhecimento de alguns acontecimentos que te passaram ao lado.

A forma de evitar isto? Não deixar os filhos embarcarem nestas viagens. 
O pior é quando o teu filho te pedir para ir porque os outros também vão, porque adorava ir, porque é uma oportunidade única, é uma vez na vida, etc. etc.
Parabéns, se conseguires dizer que não. 


Concordo com todo o conteúdo desta crónica de Daniel Oliveira, no Expresso, onde diz, por exemplo...
"O que me parece que está a mudar, mas isto talvez seja eu a idealizar o passado e a assustar-me com o presente, é a dimensão que cada episódio ganha pela repetição permanente nos media e nas redes sociais. Que faz as pessoas perderem noção das proporções. Ao ponto de Nuno Rogeiro comparar um triste e condenável episódio com adolescentes a um atentado do Daesh. Sim, temos de ter um bocadinho de calma."


O dinheiro destas viagens também é motivo de conversa e várias considerações: os Pais, gastadores, não têm dinheiro para comprar livros, mas têm dinheiro para mandar vândalos para o estrangeiro. 

Parece-me que ainda há quem não saiba que os próprios alunos andaram a angariar dinheiro com rifas, atividades, vendas (forma como conseguiram a maior parte do valor da viagem), que os pais ajudaram em algumas dessas atividades de angariação e foram juntando um tanto por mês (uns com mais, outros com menos sacrifício), e ainda... que alguns desses miúdos até trabalharam para isso! Como é que é possível?


No meio disto tudo, já que é para dizer mal, arranja-se tudo e até li o comentário de uma professora, mais nova do que eu (menos de 40 anos de idade), a dizer que no tempo dela nem sequer existiam viagens de finalistas! Não??? Em que terra? Ah... perto da minha. Hum???

Pessoa que viveu numa redoma, talvez na sua escola não se fizessem estas viagens, mas noutras escolas do MESMO concelho, como a minha, já se faziam viagens de finalistas em 1990! Pasme-se! 

A minha Viagem de Finalistas foi em 1992 e fomos uma semana para Londres. Pois. Vejam lá. Sem praia, só monumentos, pontes, jardins e museus. 
Nos anos anteriores os alunos iam para Itália e naquele ano os professores propuseram outros locais. Ficou Londres. 

Fomos bem comportados? Talvez. 
Também houve brincadeiras nos corredores do Hotel durante a noite e nos quartos uns dos outros. Não me lembro se houve estragos, penso que não. Mas há fotos de alguns disparates. Não havia Facebook, nem Instagram, nem Twitter para partilhar, por isso, Portugal e o Mundo não ficaram a saber. 

Já noutra escola da zona, os alunos iam para Benidorm. Há 25 anos.
Já em Benidorm... as histórias eram diferentes. Local de praia, piscinas, bebidas, festas. O que se espera das suas histórias? Que ficaram no quarto a ver Tv, ou que foram para o jardim andar de baloiço?
Ah... é melhor não dizer isto, dizer que alguns disparates nestas idades e nestes locais são normais, pois muita gente fica escandalizada (agora é que vêm aí os insultos). 

Nestas viagens para estes locais de Espanha, pelo que sei, é suposto haver regras relativamente a álcool. As regras sobre bebidas alcoólicas são as mesmas que eu tive em Londres. Mas quem é que consegue controlar um rapaz de 18 anos que vai buscar bebidas para um de 17? 

É preciso muita determinação destes miúdos, pois nestes locais de festa há filas intermináveis para ir buscar uma bebida, e cada pessoa só leva uma de cada vez. 

E quem é que ainda não sabe que há sempre forma de dar a volta a tudo, e que os mais velhos vão comprar bebidas à lojas, partilhando-as com os outros que são menores?


Estou eu com isto a querer dizer aos jovens que fazem bem em partir, estragar, beber, fumar, etc.? Não. O que estou a dizer, é que nem sempre os Pais ou Professores conseguem controlar tudo e que nem sempre podem ser os culpados de tudo. 

Já no tempo dos meus Pais ou Avós, apareciam meninas grávidas, sabe-se lá como, se só se podia namorar à janela ou no sofá, com supervisão.  Etc., etc.

E como se explica que dois filhos educados pelos mesmos pais, com os mesmos valores, sejam tão diferentes e um se torne ladrão e toxicodependente e outro um gerente de alto gabarito numa grande empresa? Eu conheço um caso destes, e outros parecidos com este. Não me passa pela cabeça que a culpa é toda dos Pais, porque os conheço.


Repito: não estou a desculpar os actos de vandalismo e certas atitudes inconsequentes de ALGUNS adolescentes. Obviamente que não concordo e quem prevaricou deve ser punido. 

Agora, mais de mil alunos pagarem pelo que um grupo de 10 (ou mesmo 100), fez...tenho as minhas dúvidas relativamente a este tipo de punição e ao que realmente se passou. 

Eu acho que o dono do Hotel, ou foi realmente enganado e não sabia que ia receber mais de mil jovens em viagem de finalistas, ou vive num mundo à parte. 

Este senhor devia gostar mais dos ingleses, que até fazem Reality Shows sobre estas viagens, onde os teenagers se comportam tal e qual ou pior do que a meia dúzia de miúdos portugueses. São programas de TV onde se vêm miúdos de variadas nacionalidades neste tipo de locais e de viagens, que fazem os maiores disparates, incluindo sexo em locais públicos, por exemplo.



Quem nunca viu estes programas, pode espreitar aqui e ver bem os disparates: Sun, Sex and Suspicious ParentsFestivals, Sex and Suspicious ParentsWhat Happens In Kavos

Dos miúdos estrangeiros que também já morreram, por quedas, acidentes por excesso de álcool, entre outros, não se fala. Os portugueses é que são do piorio. Nunca se viu nada assim. 
Mas já agora, dêem uma espreitadela neste documentário. Mesmo para quem não percebe inglês, consegue entender o que se passa na Tailândia. Morre um jovem australiano a cada quatro dias.

Isto desculpa o comportamento dos miúdos portugueses? Claro que não.

No entanto, o escândalo foi "connosco", e os próprios portugueses são os primeiros a atirar pedras, o que me entristece.


E afinal, será que as alegações do Hotel estão correctas?

Este é um Hotel que depois do escândalo, promete uma conferência de imprensa ou um comunicado passado uns dias, mas depois dá o dito por não dito e tal nunca chega a acontecer. 
Pois. Provas? Poucas para justificar estragos tão avultados, não será isso?

Este é o Hotel, completamente destruído segundo o proprietário, que teve estragos no valor de 50.000€, mas que no dia seguinte estava a funcionar em pleno com novos hóspedes admitidos, sabe-se lá, se instalados nos quartos que os portugueses expulsos já tinham pago. 

Este é um Hotel que recebeu dinheiro pelas estadias, pediu uma caução com a qual ficou e que ainda vai pedir mais dinheiro ao seguro. 

Imaginemos que pelas estadias, o Hotel fica com 200€ por pessoa (só um exemplo, que acho pouco): 1000 pessoas = 200.000€
50€ de caução em 1000 pessoas: 50.000€

Ora, 250.000€, mais a indemnização do Seguro (caso a empresa caia nessa)... é mesmo um negócio da China, como vi alguém dizer num comentário numa rede social, e como ouvi o Dr. Pedro Proença dizer, e muito bem, num programa televisivo. 


E já dizia "o outro"... (grande Fernando Pessa): "E esta hein?"








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