Ora como toda a gente gosta de postar no Facebook o dia em que os seus pimpolhos nasceram... e se torna corriqueiro o «obrigada filho por seres quem és»... »faz hoje... anos que aconteceu o dia mais maravilhoso da minha vida»... ou «faz anos que nasceu o meu maior tesouro», etc...., eu fui levada pela onda e aqui estou eu para dizer que o meu filho Afonso faz hoje 10 anos (escrevi isto no dia 7 de Maio - era suposto ter sido publicado!).
Acho que escusado será dizer a importância que os meus filhos têm para mim. São meus filhos!!!!! Está tudo dito!!!!
Mas hoje lembrei-me: «ora vamos lá deixar-nos de coisas. Hoje até me apetece falar no nascimento do meu filho há 10 anos e outras coisitas mais». E «10 anos só se faz uma vez», disse ele hoje logo pela manhã.
Portanto, cá estou eu.
Há 10 anos que nasceu o meu segundo filho. E como segunda experiência que era, eu estava muito mais descansada e despreocupada do que da primeira vez. É sempre a segunda experiência, por isso é mais fácil de lidar com ela. Tem sido assim desde sempre em relação às coisas do dia-a-dia, como o seu primeiro banho, a primeira papa, o primeiro dia de escola ou o primeiro dia em que me pediu dinheiro para comprar o que lhe apetece.
Os meus filhos também falam e fazem o que lhes apetece... mas só quando eu permito.
Este meu Afonso nasceu fora do nosso país, na Bélgica, em Bruxelas, em Wolluwé-Saint-Lambert, no Hospital de S. Luc, onde a princesa, agora rainha, também teve o seu filho.
Hã... não é para qualquer um!
Mas isso apenas aconteceu porque esse era o hospital mais próximo da minha casa.
Na Bélgica o sistema de saúde é completamente diferente. Ninguém tem filhos de graça. Paga-se.
Ali é tudo privado, cada pessoa tem que ter um seguro se quer ser ressarcido de alguma coisa, das despesas que tem com a saúde, ou de ter algumas regalias. É tal e qual como aqui: uns seguros cobrem mais despesas do que outros ou dão mais regalias do que outros consoante o que pagamos. Só que ali, é o único sistema que existe. Não há hospitais públicos onde as mulheres têm filhos de graça. Tudo é pago.
Há 10 anos, da minha parte paguei 250€ para ter o Afonso. O resto foi o seguro que pagou.
Agora pensem comigo: como seria se este sistema fosse implantado em Portugal?
E outra coisa: o Afonso teve que ser seguido por um urologista porque se detectou uma malformação num rim. Quando ia voltar para Portugal desabafei com o médico, preocupada como iria ser no meu país o seguimento desta situação de saúde (que afinal não era nada de grave, nem foi- até hoje).
O médico belga respondeu-me: «Ana, os médicos em Portugal são dos melhores da Europa. São eles que nos vêem dar formação. Não tem que se preocupar». E assim foi. Como ele me disse.
Ainda em questões de saúde devo dizer que há uma coisa gira: quando um bebé nasce há uma espécie de centro de saúde que envia uma enfermeira a casa, dias depois do nascimento, para ver se está tudo bem com a mãe e o bebé. E depois vamos lá para ele levar as vacinas (que não são iguais às daqui), para ver o peso e o desenvolvimento. Nesse caso já não se paga nada. Ou seja, há uma preocupação em manter a qualidade de vida de novos membros da sociedade. Menos mal.
Quando descobri uma loja portuguesa perto da minha casa, fiquei toda contente. Lá podia tirar as saudades daquilo a que aqui eu não dava importância: as nossas azeitonas, os nossos enchidos, as favas, tantas coisas... e até o nosso frango assado no churrasco. O dos belgas não sabe a nada.
Até das pessoas (muito mais afáveis) tinha saudades ... e de falar português...
Não. Nem tudo são rosas nos outros países e nem sempre compensa todo o esforço que se faz.
Ganhamos mais? Sim. Mas as rendas das casas também são muito mais... Principalmente isso. É o obstáculo maior.
Aqui é raro algum português ter o hábito de viver com outras pessoas que não conhecem. Mas lá... é o prato do dia se querem ver algum dinheiro ao fim do mês.
Compensa?
Para mim, que era porteira e não tinha que pagar casa, nem luz, nem água, nem aquecimento, nem telefone, sim, até compensava. Mas sinceramente, para a grande maioria dos portugueses que não são enfermeiros, médicos ou funcionários do Parlamento Europeu (por exemplo) não compensa. Acabam por ter a mesma vida que aqui ou por vezes pior.
Claro que também havia coisas boas, que aqui não existem. Mas não se sobrepunham àquelas de que gostamos e estamos habituados em Portugal.
Vão lá pedir umas ameijoas à bulhão pato ou uma travessa de caracóis se querem ver o que é. Não há.
Há boa cerveja, mas não há os petiscos que temos cá para acompanhar! Ora que é lá isso? Cá para mim, isto está mal organizado.
Foi uma experiência. E como experiência, é sempre bom. Abre-nos os horizontes e a forma como vemos o resto do mundo.
Faz hoje 10 anos que eu estava fora de Portugal, mas já com vontade de voltar.
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