sábado, 15 de fevereiro de 2014

COMIDA NA MESA


Estou a ficar um bocado chateada. 
Sim, fico chateada, claro que fico chateada! 
E explico porquê:

Se há coisa que me irrita são as mães solteiras de antigamente que dizem que também elas o foram e que tudo se resolveu. Pois. Mas não vão comparar pois não? 

Porque ninguém compreende o que é ser mãe de dois rapazinhos NOS DIAS DE HOJE.
Sim, nos dias de hoje. As mães solteiras do passado não são como estas de agora.



Antigamente uma mãe solteira, como foi a minha avó, quase que apenas tinha de se preocupar com o facto de alimentar os seus filhos. Essa era a prioridade e essa era a maior, principal e quase única preocupação. Sim, também se apoquentavam que as crianças fossem à escola. Mas apenas até à 4ª classe. A partir daí cada filho teria que se desenrascar e começar a trabalhar. 
Não havia preocupações com drogas, tabaco, abuso de álcool ou de outras substâncias menos recomendáveis. Isso praticamente nem existia ou era algo com que os filhos tinham contacto já em adultos.
Mesmo que em crianças bebessem um copinho de vinho ou fumassem com 14 anos... era normal.
Caso houvesse mais do que um filho, os mais velhos eram sempre os responsáveis pelos mais novos. 
As roupas passavam de uns para os outros e mesmo que os sapatos estivessem em mau estado tinham que dar para os irmãos, fosse como fosse.


Na geração seguinte, a da minha mãe (que não foi solteira), elas ainda mal conheciam os malefícios das drogas, do tabaco, etc., portanto foi coisa com que também não se preocupavam, a não ser quando percebiam que alguma coisa não estava a correr bem. Mesmo assim, a informação que tinham era pouca e para que não faltasse nada aos seus meninos, ainda os ajudavam e davam-lhes dinheiro para os vícios, não fosse a coisa descambar para algo ainda pior...
Nessa altura, se os filhos acabassem o 2º ano (agora 6º) já não era mau e aos 16 eles já estavam a trabalhar. 

Agora vem a outra geração. A seguinte. É a minha vez de ser mãe... e solteira. E sem pai para ajudar, como se eu fosse viúva. Pior que viúva, porque a uma viúva não se vira as costas e toda a gente quer ajudar e toda a gente é compreensiva.

Ser mãe solteira de dois filhos cujo o pai vive perto, conhece toda a gente e diz sempre a todos que está tudo bem com os meninos, muito embora viva em frente à escola do mais velho, a 5 minutos da escola do mais novo, e não os vá sequer visitar nem aí... não é muito agradável.

Tentar gerir esta situação e tentar fazer o melhor para minimizar os traumas que podem daí advir, não é natural, nem é simples.

Querer trabalhar e ao mesmo tempo ter que cuidar dos filhos, não é o mesmo que era há 10, 20 ou 30 anos.


Nos dias que correm, uma mãe solteira tem que se preocupar com o trajecto que os filhos fazem da escola para casa e vice-versa. 
Se os filhos ainda frequentam a escola primária, tem que os ir levar e buscar. Se frequentam uma escola secundária... é igual. 
Os perigos, alguns são semelhantes (assaltos, preocupação com o trânsito que é hoje muito mais intenso e que nas cidades faz parte do percurso casa-escola...), outros diferentes (mais drogas, tabaco, mais falta de responsabilidade ou de conhecimento de alguns perigos novos ou pancadaria... ).

Uma mãe solteira nos dias que correm, sabe que eles aprendem desde muito cedo os malefícios das drogas, tabaco ou álcool, os perigos de assaltos e dos actos sexuais. Tudo bem. Mas mesmo assim...


Hoje a relação entre pais e filhos é muito diferente. Está tudo concentrado na base do diálogo e dos castigos, e não das palmadas, dos cintos, dos puxões de orelhas ou das reguadas. Portanto, há que haver tempo para esses diálogos, que muitas vezes têm que ser distintos para cada um dos rebentos.



Uma mãe solteira que não pode contar com o pai dos filhos para nada, tem que saber gerir o seu tempo para conseguir levar e trazer os miúdos da escola à boa maneira americana. Hoje os carros dos pais concentram-se à porta dos estabelecimentos de ensino. 
O que não é à boa maneira americana... é o facto de não existirem autocarros para transportar os alunos de porta a porta, ou de paragem em paragem, junto às suas moradas. E isso incomoda? 
Sim. Para uma mãe solteira incomoda e bastante. Até me atrevo a dizer que incomoda muita gente...
Ter que sair de casa seis vezes durante um dia inteiro para se ser motorista dos filhos que têm idades diferentes e que frequentam escolas diferentes, com horários diferentes, incomoda muito mais. 
A mãe solteira (com total ausência do pai dos filhos ) não pode partilhar esta tarefa com mais ninguém. Não pode continuar a fazer o jantar e dizer ao marido que vá ele buscar um filho à escola. Ela tem de parar tudo o que está a fazer, mesmo que não acabe, para desempenhar a tarefa sozinha. Por isso tem que ter a capacidade de ter tudo muito controladinho para nada falhar desta maneira. 

A mãe solteira tem que se lembrar de tudo e fazer tudo sozinha. Não pode pedir ao marido que vá ele lavar o carro, que vá ele pregar um prego ou dois na parede, que vá ele ver o que se passa com a torneira que está a pingar, que telefone ele para o técnico para ver o que está a acontecer com a instalação eléctrica que avaria os electrodomésticos. 

Não pode pedir ajuda na cozinha, não pode pedir que outro alguém vá comprar coentros num instantinho. Hoje em dia já não há vizinhos como antigamente. Não se pedem coentros à vizinha do lado. 
Uma mãe solteira pára tudo e tem que ir comprar os coentros que se esqueceu, com toda a irritação que isso acarreta. Irritação porque se esqueceu de comprar os coentros na altura devida e irritação porque vai ter que deixar a confeccção do jantar a meio, sair de casa e ir comprar os belos dos coentros. Irritação porque perde mais um quarto de hora se for perto e meia hora se tiver que ir mais longe.
E também não pode pedir ao filho que vá por ela. Sabe-se lá o que lhe pode acontecer no caminho.

Uma mãe solteira, não pode pedir ao filho mais velho que trate do mais novo, porque não lhe quer incutir a responsabilidade que tem de ser dela. Tem que tratar de cada um e pronto.

E tem que estar constantemente a espiolhar o que os filhos andam a fazer na internet, porque mesmo com os avisos que já têm, "o ladrão vai sempre à frente do polícia" e todos os cuidados são poucos.


Nos dias de hoje uma mãe solteira não pode deixar os filhos a brincar na rua um dia inteiro. Há toda uma panóplia de perigos que não havia antigamente.E também não os pode deixar horas a jogar em frente a uma playstation e uma tv, porque faz mal. Tem que por isso, tentar demovê-los e convencê-los a fazerem outras actividades. Dentro de casa. Não pode por isso relaxar muito tempo ou tratar da casa o dia inteiro, como antigamente.

Uma mãe solteira de hoje, tem que se inquietar com o que os filhos vestem e calçam. 

Há modas... E têm que se cumprir o mais possível. 
Antigamente ninguém queria saber disso. Cada um vestia e calçava o que havia e que podia. 
Hoje os ténis rotos do mais velho nunca vão ser do mais novo. A ninguém se lhe passa tal coisa pela cabeça.

Hoje em dia há óculos. Antigamente só se compravam estas "iguarias" em casos extremos. E ainda antes dessa altura... só quando os filhos já trabalhavam.


Nos dias que correm, uma mãe solteira tem que pôr comida na mesa. Sim, claro que tem.



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