sexta-feira, 27 de setembro de 2013

FARMÁCIA RACISTA





O meu amigo Bruno Henriques fez-me lembrar uma história onde me vi envolvida há uns anos e que acho simplesmente repugnante...

Um dia, morava eu noutra localidade e o meu filho AR ficou doente. Estava cheio de febre e pintinhas pelo corpo, por isso desloquei-me ao Centro de Saúde da zona de residência. 


Infelizmente só havia um médico de serviço e que na altura em que eu cheguei, tinha ido jantar. Até aí tudo bem. O homem não tem culpa de o colocarem ali sozinho e caramba... também tem que se alimentar como toda a gente! 


Esperei e à hora marcada lá estava ele. Fui chamada e muito bem atendida. O AR estava com varicela e o médico explicou-me tudo e apesar de eu já ter tido a mesma experiência com o AM, o mais velho, ouvi com toda atenção e aprendi mais umas coisas sobre a doença. Entregou-me a receita, desejou as melhoras ao AR e eu desloquei-me à farmácia do outro lado da rua.


Quando chega a minha vez de ser atendida no dito estabelecimento comercial, apresento a receita. 
Mas eis senão quando, a farmacêutica fica a olhar para o papel (sabem aquele olhar do género...detective importante?) e diz:
- "Não lhe vou dar isto porque a receita está enganada."
- "Enganada? - perguntei. Esta era nova. Nunca tal tinha ouvido!!!...

- "Sim, enganada. Estes medicamentos estão mal." - disse a senhora.

- "Então mas como é que a senhora sabe?" - insisti.
- "É como lhe digo. Está errada e eu não lhe avio isto!" - responde.

Bem... saí da farmácia. E atenção: com uma criança de 4 anos doente.  

Lá atravessei a rua e voltei ao Centro de Saúde. Pedi então para falar novamente com o médico. Mais uma vez simpático, atendeu-me e eu expliquei-lhe o que tinha acabado de se passar.


O médico pega no telefone e eu começo a ouvir:
- "Olhe estou a ficar cansado disto. Vamos ver se não nos chateamos. Afinal quem é o médico? São vocês ou sou eu?"... " Esta senhora vai voltar aí e vocês vão vender aquilo que eu receitei. E espero que esta seja a última vez".

Sabem aquelas pessoas que estão zangadas mas o tom de voz não muda? Este médico era assim. Quem não estivesse a ouvir as suas palavras, pensaria que ele estava a ter uma conversa normalíssima.


Desligou

E eu ali...estupefacta com aquilo e sem perceber nada...
Foi então que ele me disse:
- "A senhora não é daqui pois não?"
- "Não" - respondi.
-"Então e não sabe qual é o problema?"
- "Não!"
- "Aqui não gostam de pretos e por isso aquelas pessoas têm feito de tudo para me humilhar e enervar a ver se me vou embora" - disse com toda a calma e simplicidade. 

Eu estava parva com aquilo. 

O médico entretanto, deu-me um cartão pessoal dele, com o número do seu telemóvel. Era chefe no Hospital de São José, em Lisboa. "Se houver alguma coisa esteja à vontade para me ligar, não tenha qualquer problema".

De volta à farmácia entregaram-me o que estava prescrito e mais nada disseram. Os medicamentos fizeram o efeito desejado e nada mais...


Não sei o que aconteceu depois. Felizmente não precisei de ir mais ao Centro de Saúde e passado uns tempos deixei aquela terra. 

Mas achei muito triste, em pleno século XXI, perto da capital do nosso país, assistir a uma cena destas e ainda me usarem como bola de ping-pong com uma criança doente nos braços.


Ao médico, desejo-lhe muito mais sorte do que aquilo que ali passou (espero mesmo que tenha saído dali para melhor) e desejo-lhe muitas felicidades. 


À senhora da farmácia... que lhe dêem um curso de boas maneiras e outro que lhe ensine que o racismo é mesmo muito feio. Ou que vá para a reforma e deixe trabalhar quem sabe...



P.S. - Bruno, não tem a ver com a tua "história" das comissões dos médicos ou farmacêuticos, mas não sei qual será a pior!!!

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