terça-feira, 1 de outubro de 2013

CESTO DE PAPÉIS NÃO ENTRA


Há cerca de 3 anos que regressei à minha casa. A primeira. Comprei-a quando tinha ainda 23 anos. Estávamos naquela altura... do auge!!! 

Comecei a trabalhar nas férias da escola desde os 16 anos, e depois mais a sério aos 19,  para não estar a sempre a ouvir que os meus pais é que pagavam... e tal e tal... e etc. e coiso... vocês sabem...

A verdade mesmo é que me portei mal. Era excelente aluna na primária e preparatória e na secundária não tinha problemas, mas aí já gostava de estar entre " a malta"... e porque tinha sofrido o tal do "bulling" no 6º ano, não quis continuar a ter grandes notas, mas passava com relativa facilidade.
Depois quando cheguei à Faculdade, não sei o que me deu... (ou foi um ar da minha graça, ou de parva, mesmo. Acho que foi mais a segunda... mas xiuuuuuu....)
Estupidamente não ia às aulas, fazia tudo menos estudar e vivia sozinha. Quando os meus pais chegaram do estrangeiro ficaram muito desapontados comigo. E tudo isto levava a mais histórias, mas lá estou eu a desviar-me do foco principal...


Onde quero chegar?... É que nessa altura o meu ordenado era bem acima da média. E foi difícil gerir isso no inicio. 
Na altura não tinha nada, mas mesmo nada com que me preocupar em termos de despesas. Era tudo pago pelos meus pais e eu no princípio acabava por gastar o dinheiro todo em coisas sem significado.
Ainda saí desse trabalho a certa altura e lá consegui fazer o 1º e 2º anos da faculdade. Mas já tinha o "bichinho" do dinheiro e acabei por voltar ao meu emprego. E afinal, ainda comecei a ganhar mais, porque fui promovida. 

Foi então que resolvi mudar o meu modo de vida e aproveitar o dinheiro para algo de útil: troquei de carro (o primeiro foram os meus pais que me deram, tal como a "DT LC cor-de-rosa"... Bruno) e comprei uma casa. Quer dizer... um apartamento - usado. Não quis nada que não fosse capaz de pagar (mal eu sonhava o que estaria para vir anos depois, mas ainda bem que foi assim e não me "estiquei" mais). 

Fui a um "stander" e a uma imobiliária, tudo perto de casa e do trabalho. Ah!!! O trabalho era praticamente ao lado de casa!!! Só qualidade de vida!!! (que parva... não sabia o que era isso, porque tive logo essa sorte no primeiro trabalho a sério).

Lembro-me bem que na altura me perguntaram se queria mais dinheiro no empréstimo da casa... podia pedir muito mais, se quisesse. Mas não quis. E fui comprando aquilo que precisava à medida das possibilidades e das necessidades/prioridades. À antiga.


Quando aqui cheguei pela primeira vez... de fresquinho... e novinha... uma míudinha... fui logo confrontada com: obras no prédio, pintura do exterior, telhado novo, porta nova com caixas de correio das modernas... 
Enfim... todo o dinheiro que me sobrava para além das despesas da casa serviu para duas coisas nessa altura: ou para casamentos de amigos (cheguei a ter 4 no mesmo ano), ou para as despesas do prédio. Acabaram-se as extravagâncias, jantarinhos, sapatinhos, reloginhos, etc., etc. ...

Ao que soube, estiveram à espera que alguém comprasse esta casa para começarem com as obras todas... e o prédio não era assim tão antigo! Mas tudo bem. Aceitei tudo. 

Tive que me calar quando fizeram o telhado novo e sofri horrores com o calor porque estou no último andar, mas pior do que isso, quando verifiquei que já não conseguia andar em pé dentro da minha arrecadação no sotão.  
Mas eu era a miúda. Ninguém queria saber da minha opinião para nada... e dizem... que foi mais barato...
Ora mais barato era não fazer nenhum telhado!!! Ficava aqui a assar no Verão e a tremer no Inverno... (claro que não... estou a brincar ok?).


Para agravar a situação, o ambiente que depois se desenrolou dentro da minha habitação, também não ajudou em nada. "Arranjei" um gajo que me dava cabo dos nervos, que me cobrava tudo, que a maior parte do tempo não trabalhava e que me pedia dinheiro, que me chegou a roubar todo o dinheiro que tinha no banco e eu ficar sem um tostão, era viciado no jogo, vinha bêbado para casa, passava noites fora...e outras coisas mais... enfim... 
Mas ainda hoje, eu sou a má, a arrogante e a incompreensível e maluca da Anita aos olhos de muita gente. 
Não tinha com quem falar. Como já disse, não tenho irmãos, tinha-me afastado de todos os amigos, não podia contar aos meus pais e as vezes que tentei contar à minha mãe ela nunca acreditava em mim e apoiava sim, o pai dos meus filhos. 

Mais tarde, vim a saber que lhe davam constantemente dinheiro, tabaco, pagaram-lhe a carta de condução e pagaram uma dívida que tinha a um dos patrões que teve!!! Sim, ele é que devia dinheiro ao patrão!!! Pedia-lhe dinheiro durante o mês, devia dar a desculpa que tinha um filho e depois ia de seguida para o Casino com o carro de serviço da empresa até sair de lá sem nada!!! Chegava ao fim do mês e dizia-me que o patrão não lhe pagava... Pudera!!! Ele é que já devia ao patrão!!!

A minha vida e do meu filho mais velho chegaram a estar em risco, porque ele se meteu com um agiota que lhe emprestou dinheiro para o jogo e que depois o ameaçava a ele e à família (eu e o filho). E eu sem saber de nada. 

Sim, é verdade que em certas alturas, pensei estar maluca, tal era o estado de nervos em que andava. Tudo me começou a fazer confusão e o meu sorriso foi-se... quando antes toda a gente me dizia:" parece que foste feita a rir!!!"

Este homem deu cabo de mim (homem???). 



Portanto, as discussões em casa eram feias. E por isso, depois também não tinha coragem de dizer muito acerca do prédio, porque os meus vizinhos ouviam o barulho, houve noites muito más... enfim... parecia uma casa de malucos. Com que moral ia eu dizer alguma coisa??? Apesar de pagar como os outros???
Ainda por cima, eu era miúda e a mais novinha do prédio. Para terem uma noção, tenho uma vizinha que foi minha professora. O "pessoal" não era idoso, mas ainda havia uma boa diferença de idades...

Então fui-me calando... ou se tentava dizer alguma coisa, " a dona do prédio" tratava logo de me calar. 
Sim, há sempre um "dono do prédio" já repararam? Há sempre alguém que se destaca e que quer comandar tudo. Aqui também existe. É "uma dona". 

E essa "dona", não quer um caixote do lixo no hall de entrada (para além de muitas outras coisas). Ou seja, tenho que subir as escadas, muitas vezes atafulhada de papeis que não me interessam para nada, porque Sua Excelência não quer uma porcaria dum caixote para deitarmos fora aquilo que sabemos de antemão que não nos vai interessar minimamente. Não interessa se venho carregada, o que interessa é ter que trazer o monte de papeis na mão para chegar a casa e deitar para o lixo... 

Estou farta do Professor Muamba, do Macumba, das excursões a Trás-os-Montes para venderem colchões, do "compro ouro", "faço empréstimos" ou da Igreja "não sei quê" que vai mudar por completo a minha vida, mas só se deixar lá dinheiro... 
No entanto, lá tenho de os levar a todos para casa...

Mas até me interessam ver as promoções nos supermercados!!! 
Pois... já me iam dizer, que "ah e tal, há um papelinho que se põe na caixa do correio a dizer: "PUBLICIDADE AQUI NÃO OBRIGADO!". 
Eu sei que isso existe, mas que às vezes nem assim dá resultado... e para além disso há coisas que até gosto de saber!!! Mas não todas!!!

E como é que as outras pessoas normais resolvem isto??? Têm um caixote no hall do prédio para onde deitam aquilo que não lhes interessa!!! E então??? Qual é o incómodo???
Incómodo é ir com as papeladas escadas acima e ir deixando cair papéis e papelinhos pelo caminho, apanhá-los, deixar cair sacos ou saquinhos, ou ter que pousar tudo para voltar atrás a apanhar o lixo... e depois deitar fora no caixote de casa, para depois no dia a seguir ir com aquilo tudo novamente escada abaixo para pôr no "papelão"... Ufa!!!

Mas quando se é do contra... é assim que vivemos...

A tudo o resto já faço ouvidos moucos, porque sinceramente tenho muito com que me preocupar e comprei a casa como todos os outros. Faço barulho dentro do normal, já não tenho medo de ouvir música, TV ou Rádio e já não tenho medo que os meus filhos se divirtam e riam. Sei bem as horas a que o posso fazer, portanto!!!... 
Não ultrapasso tudo o que é para além da lei, mas já não sou "a miúda". 
Aqueles que eu vi ainda crianças, são hoje adultos, uma delas faleceu, com 32 anos e houve quem não aguentasse o stress e mudasse mesmo de casa. Ainda o conseguiram antes da famosa "crise". 

E pronto... ia só falar de um simples caixote do lixo e de papéis... e acabei por escrever mais do que isso...

Mas agora fico-me por aqui, porque tenho mesmo que ir descansar. Está mesmo a apetecer-me a minha caminha e uma noite descansada. 

O pior já passou... (julgo eu).





P.S. - A "senhora dona" tem um filho de quem eu gosto muito que até tem o mesmo nome de um dos meus filhos. É totalmente "cool", não stressa, nem quer saber. Até goza com a situação... 

Se vires isto vais-te reconhecer, mas acredita que gosto de ti e contigo não quero que hajam este tipo de "cenas"... tu sabes... já to disse. Não leves a mal o que escrevi (sei que não). 





2 comentários:

  1. Bom Dia Ana ,como hoje é Dia mundial da Musica boas musiquinhas para ti ...

    Nossa !!! O que um cesto de papeis te provoca nos dedinhos é magnífico ler-te....

    Engraçado a forma com consegues numa simples história mesmo com alguns episódios menos bons deixares uma pessoa presa até ao final ...!!!

    Bem essa Dona merecia mesmo era uma descarga dentro do correio dela ...!!! Trabalhei muitos anos como técnico de uma operadora de telecomunicações e entrei em muitos prédios "inclusive esse onde habitas" e na grande maioria todos têm o tal cestinho ,no meu existe,peca é pelo tamanho mas é o possível ...

    Olha minha querida amiga eu não os levaria para cima certamente ,no máximo deixava-os bem arrumadinhos em baixo do correio no caso de ser por dentro claro ...
    Mas isso é só uma opinião minha ...
    A tua história as vezes só me dá vontade de te dar um abraço enorme ...A vida é mesmo um grande mistério ..

    Beijos Ana já tinha saudades de te ler ....

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  2. Ahahahah!!!!

    Boas músicas para ti também, não só hoje, como todos os dias!!!
    Eu adoro música!

    Obrigada pelo teu comentário!

    Por acaso não deixo mesmo lá as papeladas para não haver o que me apontarem...

    Mas é certo que já há quem o faça...

    Olha... um abraço virtual!!!
    Beijinhos Paulo!!!

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