quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O QUE SE APRENDE COM UMA MOTA


A primeira vez que andei de mota... 
Bem... quer dizer, não foi de mota (lá estou eu), foi numa acelera
Não sei se alguém se lembra, mas aqui no "deserto", mais propriamente na Cruz de Pau (o que foi? olhem é um nome melhor do que Ranholas ou Sr. Roubado, sim?). Bom, bom... 
...Pois nesta localidade havia uma loja que alugava motas e motorizadas... (nunca mais vi disso, não será um bom negócio?). 

Então um dia, o meu namorado, aliás o meu primeiro namorado, aquele primeiro amor, foi comigo alugar uma acelera para me ensinar a andar naquilo. 
Se fosse hoje, o coitado era pedófilo, porque eu tinha apenas 16 anos e ele tinha mais quatro anos do que eu... Mas ele podia alugar uma mota e eu não... e a vida é assim... 
(os meus bisavós casaram-se com 15 e 17 anos, e não houve qualquer problema e tiveram uma carrada de filhos, e tudo e tudo e tudo, entre eles a minha avó e a irmã gémea).

Até hoje mantenho a marca no joelho da minha primeira queda.
Sabem aquelas cenas (sim, aquilo são cenas) que se vêem no "Gosto Disto" e programas do género? Pois, aconteceu-me tipo... uma cena dessas... (aqui posso falar como quero... e assim pareço mais nova!).

Fomos para um local sossegado, de moradias, e lá fui eu... para dentro do mato... 
Assim que ele me disse para acelerar  eu acelerei .. só que esqueci-me de perguntar como é que se parava...  e acelerei... acelerei... até entrar por um terreno cheio de árvores e cair lá para o meio daquilo... e ele andar à minha procura no meio de ervas e arbustos...

Quer dizer, mal me tinha curado das antigas quedas dadas em miúda nas bicicletas, já me estava a estrear nas aceleras. Então mas não era para acelerar ?? E eu acelerei, ora então!!! Ninguém me disse que tinha o modo "desacelerar"... 
Bem, se calhar até me foi dito, mas eu já devia estar a entrar para o meio do "relvado"... 

Mas se pensam que isso me fez ter medo daquele tipo de veículos, desenganem-se... porque a partir daí é que quis mesmo ter um daqueles para mim! 
Demorou dois anos, mas lá convenci os meus pais. E tive aquela lá de cima... (primeira foto)
Opá, não há dúvida que o meu pai "era muito à frente". Qual era o pai, militar, com uma única filha que a ia deixar sair a partir dos 16 anos e aos 18 ter uma mota? Ok... Aqui eu já era maior... mas era uma criança... e o dinheiro era dele! 
Mas sabem uma coisa? Não me fez mal nenhum. O facto dele confiar em mim, fez-me bem. Ele apenas queria que eu fosse feliz... 

Bem, mas o que me lembro também, é que as quedas não ficaram por aí! 
Como era natural, os meus amigos da altura também tinham motas melhores e mais potentes ou motorizadas como a minha. 
Ora eu, como não conseguia pegar numa mota a sério (demasiado peso para mim), gostava de pelo menos andar nelas à pendura! E muitas vezes não havia necessidade de levarmos uma mota cada um, para cada lado que íamos!
Então aproveitei isso várias vezes, para sentir mais de perto uma mota de verdade... 

Só que havia um amigo com quem eu não gostava de fazer isso, porque ele era muito "acelera" e pisava muitas vezes o risco... portanto eu estava sempre a pedir-lhe para ir mais devagar. Não gosto cá de maluquices. Pronto, só às vezes... (xxxxxxiu.... fica só entre nós)
O problema é que ele fazia provas de "enduro", ou seja, para ele era complicado não andar de mota daquela forma... a desviar-se dos obstáculos e a fazer-me quase saltar dali para fora quando decidia andar em trilhos cheios de buracos... tenho a impressão que muitas vezes ele se esquecia que eu estava ali... não sei... é uma coisa que tenho na ideia!... e até acho que há mais rapazitos com este "síndroma"...
Resultado: cada vez que lhe gritava para ir mais devagar, ele abrandava e nós caíamos!!! E ele gritava:"Porra! Já te disse que não sei andar devagar!". E era verdade. Desisti. Rendi-me às evidências e aos arranhões e passei a confiar mais, embora continuasse a evitar ir com ele sempre que possível...

Lembro-me também duma vez que tive um "acidente". Ponho entre aspas, porque se aquilo foi um acidente, vou ali e já venho...
Mas para quem assistiu, aquilo foi um grande acidente, a avaliar pela gente que por ali apareceu! 



Eu estava parada, paradinha, à espera do momento ideal para entrar na estrada nacional, quando veio outro rapaz também de mota, do lado esquerdo, e me tocou na mão... ou seja foi uma ocorrência de mota com mota e mão na mão...
Como a velocidade a que ele ia era considerável, e porque aquilo doeu... eu caí para o chão. Ele nem isso! Ficou firme e hirto. 
Pronto: juntou-se uma série de gente à minha volta, uma gritava, outro não me deixava tirar o capacete... Gente muito prestável sem dúvida, mas os gritos não ajudavam em nada e eu só caí para o lado... não bati sequer com a cabeça no chão...
Enfim... Foi "o cabo dos trabalhos" para me desenvencilhar daquilo! 

O que aprendi também... naquela altura, é que... quem nunca conduziu uma mota, raramente se lembra que há pessoas que o fazem! É verdade! Há coisas fantásticas não há?
Raramente quem conduz um carro sabe disso, a não ser os que já passaram pela experiência... 
Portanto quem anda de mota tem que ter mais do que apenas dois olhos. Devia haver uns olhos descartáveis, ou sobresselentes, como os pneus ou as cameras de ar, não acham? Eu acho. E aqui quem está a escrever sou eu... e sou por isso, a primeira a responder!

E  ainda aprendi outra coisa: devia haver um sistema para nos tornar invisíveis quando passamos de mota por uma Brigada de Trânsito ou pela GNR. Sim, porque nunca me mandaram parar tantas vezes como naquela altura. 
Então quando eu ia para a praia, era certinho, direitinho! 

Os chenhores polichias (esta agora!... isto fica melhor assim ou com "X"?) devem ter um fetiche qualquer com motas e metorijadas... 
"Oh oh...Olha-me esta... onde é que penxa que bai a paxar as filas de trânjito?" (sim desde que me lembro de ser gente, que também me lembro das filas para a praia - mas para o lazer a margem sul sempre foi boa para todos...não é malta?). 
"Ora bámos lá mandá-la parar que é para xigar ao mesmo tempo dos outros. Coitadinhos dos que bão nos automóbeis... Bá lá ber..." (sim sim, naquele tempo eles ainda falavam todos achim sabiam?).

Portanto, é por estas e por outras que 

acho que toda a gente, a certa altura da vida, devia andar de mota

Aprendem-se imensas coisas, para além de se ficar a saber que não se deve deixar o saco tocar no tubo de escape em andamento, para não ficar sem um roupão pelo meio do caminho... 
Ah!... e que é normal o roubo de peças!... em especial o "stop" de trás... 

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