Fui chamada à escola do AR para falar com a
sua professora.
Fui lá hoje, tal como me foi pedido, às 17.30h.
Enfim... estive até às 18.15h à espera... com tanto
que tinha para fazer...
Controlei-me... ou tentei... Digo isto, porque acho que é de uma
falta de "chá"... chamar-me para ir lá e chamar outra mãe, para
ir à mesma hora, com quem esteve 3 quartos de hora...
Eu sabia disso, mas até pensei que a professora queria
falar connosco ao mesmo tempo... fazer um género de uma reunião. Mas não. E
depois ainda me disse: "desculpe lá, mas aquela mãe chegou
primeiro..."
Eu até sabia... que aquela mãe tinha muito para lhe
dizer... mas fosse como fosse, se a senhora não tinha intenção de falar com as
duas mães ao mesmo tempo... marcava o encontro para horas diferentes... acho
que é simples e fácil de entender...
Mas adiante... a professora chamou-me
lá para dizer que o AR não faz os trabalhos de casa (os TPC's) e que isso só
está a acontecer este ano!
Ora ela sabia bem que o AR este ano já
está mais comigo, porque já não estou a estudar e a trabalhar em Lisboa. Acabei
o curso e por enquanto tento que volte tudo à normalidade cá em casa.
E este comentário mexeu comigo. Consegui conter-me nalgumas
coisas, nomeadamente na parte em que a senhora professora só viu isso este ano
porque só agora se lembrou de verificar os TPC's todos os dias.
- a primeira, porque a professora, nos anos
anteriores, chegava a estar uma semana sem verificar se os trabalhos de casa
eram feitos. O AR chegava a casa desmotivado, porque tinha estado tão
afincadamente a fazer os trabalhos, para depois nada daquilo ser visto ou
conferido durante dias... e depois quando ela os ia ver, conferia uma semana de
TPC's...
- a segunda, porque o AR ficou demasiado tempo com a
minha mãe e sofreu de tudo o que isso implica. Ou seja, excesso de confiança,
de mimos, de vontades feitas...
- a terceira, para mim a mais grave, o facto da minha
mãe dizer certas coisas e fazer certos comentários à frente dos miúdos, e que
não devia... como é o caso de : " a professora não presta", ou
"pronto, não faças então os trabalhos, porque ela se calhar nem vai ver
amanha, como é hábito"...
Por
muito que a chame a atenção... a minha mãe não vai lá... podia pensar e
comentar comigo ou mesmo com outra pessoa, mas nunca à frente dos miúdos...
Ora, como muita gente sabe... os putos apanham logo a manha...
"Olha, olha... ai posso fazer isso? Porreiro pá!
Não faço os TPC's!"
Eu antigamente confiava no catraio e agora estava a continuar a
confiar... mas afinal sai-me isto!...
Se há coisa que abomino é os pais faltarem ao respeito aos
professores dos filhos, ou seja a quem for, mas por favor... há casos e casos e
esta merecia ouvir umas coisas... e da minha parte não levou nada porque eu não
quero entrar em conflitos no último ano... e ainda por cima com alguém que
passa uma parte dos dias com o meu filho... se é que me faço entender...
Mas é precisamente por ser o último ano, com exames nacionais, que
agora deu à senhora em fazer o que devia! E chamar-me agora por causa disto?
O miúdo, a maior parte das vezes vem perguntar-me
coisas de matemática que eu não sei! Não entendo nada daquilo! Eu não aprendi
assim! Quem é pai ou mãe deve saber do que estou a falar!
Eu não tenho disponibilidade financeira para
explicadores! E acho que nem tenho que ter!
E depois queixas... que ele está muito diferente este
ano... que faz isto e aquilo...
Afinal se os professores não têm que dar educação aos
alunos, e mandam-nos para casa fazer as coisas e os trabalhos que não acabaram
nas aulas (às vezes duas páginas???)... então qual é o seu papel?
Devo estar mesmo fora do tempo... porque quando eu andei na
escola, os professores faziam realmente um pouco de tudo. Nunca vi ninguém
bater em ninguém, mas havia castigos, alguns ridículos, daqueles de estarmos
virados de frente para uma parede, no canto da sala... mas foi coisa que não me
fez confusão nenhuma... e a mim só foi precisa uma vez... aprendi logo a lição.
Qualquer pai ou mãe que se interesse, tenta fazer o melhor. Para mim, o
melhor, no caso do outro meu filho, o mais velho, foi simples. A professora e
eu combinámos que se houvesse faltas de respeito, mau comportamento, ou fosse o
que fosse, ela me ligava e combinávamos um castigo para lhe dar na escola.
Seria com o consentimento das duas. Uma vez, achámos grave o que ele fez com
outros colegas (mandar pacotes de leite a uma janela), de tal modo... que o
castigo do meu AM foi
ajudar a limpar as mesas do refeitório após as refeições, durante uma
semana.
Nunca mais. Nunca mais o AM voltou
a fazer algo que fosse para merecer um castigo. Estava no 2º ano. (2ª
classe).
Se eu lhe desse os castigos em casa, por uma coisa que
tinha feito na escola, não funcionavam. Só funcionavam contra mim. À próxima
oportunidade voltava a fazer o mesmo na escola. Por uma questão muito simples.
Ele após as aulas ainda ia para o ATL, e a seguir, por vezes, ainda ia para a
natação...
Ora quando chegávamos a casa... o que se tinha passado
de manhã na escola, para aquela criança, já estava esquecido! Para o AM aquilo já não
fazia sentido algum!
As crianças são assim! Quem nunca viu os filhos
andarem "à bulha"... quase que se matam... e passado 10 minutos já
estão a brincar, muito amigos?
Eles esquecem rápido! E o castigo só é completamente
eficaz se for aplicado ali, com aquelas pessoas, naquele recinto, o mais breve possível!
Mas é claro, que hoje em dia, essas crianças também
têm de saber que os pais estão de acordo com isso e que não vão lá bater na
professora. Isso, meus amigos, é fundamental.
Agora isto... é que não me parece nada...
3 anos em que não se quer saber... depois de
repente... já quer... mas chama os pais para resolverem tudo... não me parece ser a melhor das hipóteses... digo eu...
No caso do meu filho mais velho, a professora viu-se "às
aranhas" com os alunos no inicio, mas entretanto tudo mudou. De tal modo,
que é a professora mais adorada por todos. Hoje já eles andam na secundária,
mas até ao ano passado (porque neste ano, ela foi mais uma que saiu para o
estrangeiro), os antigos alunos iam visitá-la sempre que tinham tempos livres.
Então afinal, o que se passa aqui? Os miúdos são
diferentes? Sim, claro, têm feitios diferentes. Os meus têm. Mas não é melhor
um... do que o outro.
O mais novo, há anos que diz que às vezes se assusta e que lhe
dói a cabeça porque a professora grita muito. Coisa que sempre desvalorizei. No
entanto, não é o único que se queixa.
E pergunto eu: é a melhor forma de lidar com crianças?
É que eu em casa, já percebi que não.
De qualquer forma, assim que pude falei com o meu filho AR.
E afinal... a resposta nada teve a ver com o que eu
estava à espera, ou com algum destes assuntos.
A resposta dele foi esta: «se eu fizer os trabalhos e for todo
certinho, não tenho a vida que levo agora».
- « O quê?» - perguntei eu - «Qual
vida?... O que queres dizer com isso? Mas que conversa é essa? »
AR: «
Tu não percebes que eu tenho um problema. Nunca percebeste...»
Eu: «Não! Nunca me
disseste que havia um problema! Qual é? Podes contar-me?»
.... fez-se silêncio.
- «Então? Não me queres dizer? Se não me
disseres não te posso ajudar» - disse eu.
AR: «
Se eu fosse certinho como antigamente, não tinha os amigos que tenho agora, nem
tinha uma namorada».
Fiquei em estado de choque.
Eu: «O quê? Mas de
onde é que vem esse tipo de conversa? Onde é que viste isso? Quem é que te
disse isso?»
AR: «
Ninguém, mas é a verdade. Nos outros anos brincava sozinho ou com o D».
Isto foi algo que reparei por várias vezes, e nessas mesmas
vezes falei com as auxiliares que ali estavam no momento, no sentido de
perceber a razão daquilo acontecer. Eu não o via a brincar com ninguém e
realmente o único amigo que eu lhe conhecia, era o D. Mas a resposta sempre foi
a mesma: que era impressão minha, que o AR era assim, sempre foi assim e tudo
aquilo era normal.
E estupidamente deixei o meu sexto sentido de lado,
quando o devia ter seguido.
Pergunto-lhe: «Mas porque é que isso acontecia?»
AR:
«Porque eu pedia para brincar com eles e eles diziam que não. Então eu ia
brincar sozinho, ou às vezes com o D.»
Eu: « Porque eras bom
aluno?»
AR: «
Sim, porque era muito certinho. Era o que eles diziam...».
Confesso que
ainda estou em choque. Eu passei por isto. Nunca esperei que viesse a acontecer
a um filho meu. É muito mau. Dói demais.
E sei que não há resolução para isto, a não ser com a
ajuda de bons profissionais... o que me parece... que é complicado...
Todas as funcionárias (docentes e não docentes) da
escola o adoravam porque ele era muito educado e responsável.
Nestes dois meses de aulas, já não gostam... porque
ele se tornou rebelde. Já enfrenta os colegas que o maltratam. E isso é visto
como má educação. Os outros, como sempre foram assim... é normal... deixá-los
estar...
E eu agora o que vou fazer? Se digo alguma coisa... é bem
provável que a escola se torne um inferno para o AR.
Vou ficar calada e com muito trabalho de casa para
fazer (em todos os sentidos). Uma situação que poderia ter sido evitada, se
todos fizessem o seu serviço como devia ser feito: tomar atenção ao que se
passa realmente com as crianças, dentro do horário escolar.
Compreendo que toda a gente está descontente e tem
problemas. Mas isso não pode ser desculpa para "ad eternum" se
deixar de fazer tudo e mais alguma coisa... e deixar tudo para os outros...
Neste momento não estou com raiva, nem revoltada, nem nada que
o valha. Estou triste. Apenas isso. Triste pela forma como ainda
tudo se passa diante dos olhos de quem devia ter alguma atenção e
responsabilidade. Cada um tem as suas. Eu não estou presente na escola, portanto
delego os cuidados aos adultos que lá estão. E pelos vistos... ninguém se
apercebe de nada... a não ser eu... mas se falo... ainda passo por má...
E então tenho um blog... onde vou relatando estas coisas... em jeito de
desabafo... em jeito de um diário que não tinha há mais de 20 anos...
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