O casalito tinha feito a mesma pergunta ao mesmo
"pica-bilhetes". E a resposta foi igual. Que esperassem ali, na mesma
linha.
Entretanto vimos um comboio parado na linha do lado e
pessoas a entrarem, as últimas mais depressa, mas estávamos todos
descansadíssimos. Se o rapaz disse para esperarmos ali, é porque era para ficar
ali. Nem que fosse a apodrecer, mas dali não íamos sair!
Pois...
tá bem, tá bem...
O "nosso" comboio partiu e o da linha ao lado também, no sentido
contrário.
Ali não há a senhora (que até sei que se chama Marta,
e não é a dos seguros) locutora da Fertagus ou da CP a dizer «Senhores
passageiros. O comboio procedente de... e com destino a... vai dar entrada na
linha número...», com aquela voz sexy (para alguns).
Não há. A Marta não chegou lá. Se calhar porque não
apanhou o comboio a tempo. Porque há poucos. Muito poucos.
Nisto, um dos rapazes das cantorias aparece a dizer que afinal o trem
da outra linha era o nosso!
Na boa... não faz mal... enfim, perdemos este,
apanhamos o próximo.
"Próximo? Mas qual próximo? Aquele era o último
de hoje! Agora só amanhã!"
"Não pode ser. Às 7 da tarde? A um sábado? Em
pleno Verão? Nãaaa...."
" É verdade! Vão lá dentro à estação perguntar!"
Pusémos os pezinhos a mexer e foi o que fizémos. Dirigimo-nos à
bilheteira e o homem do casal fez a pergunta ao senhor entediado da CP.
Ficámos brancos com a resposta. Ok, eu já sou
extremamente branca, mas era Verão e eu já teria uma corzinha se não fosse
isto!
Bem, ficámos baralhados, chateados e isso evoluiu para
a irritação, depois raiva, depois fúria.
De tal maneira, que o senhor do casal - vamos
chamar-lhe Filipe ok? Não sei o nome, mas assim fica mais fácil. O Filipe pediu
o livro de reclamações. Acho que o funcionário nem pestanejou. Entregou o livro
de bom grado e o Filipe escreveu até não haver mais espaço na folha. Até hoje
não sei a resposta que obteve, mas se for a considerar pelo exemplo da Refer,
CP e Fertagus, para onde enviei a reclamação acerca da minha saga À NOITESEGUREM AS BEXIGAS E FAÇAM EXERCÍCIO, nem sequer houve algum tipo de
explicação. A mim só a Fertagus respondeu a dizer que o assunto estava em
análise e que responderiam o mais breve possível. Ora isto passou-se no dia 14
de Setembro de 2013. Estamos a 21 de Dezembro de 2013 e nada. Nadinha.
Para quem não sabe, informo que o prazo máximo para responder a uma
reclamação é de 30 dias.
Dias que já lá vão...
Mas é assim. Cada um faz o que quer, quando quer. Nada
de precipitações.
Enfim... Como não havia mais nada a fazer ali, fomos à praça de táxis cá
fora.
Táxis? Olha, olha... estes querem um táxi às 7 da
tarde!
Não há táxi a esta hora! Os que aqui estavam já
levaram quem tinham a levar. É sábado e está na hora da janta pá! Qual táxis,
qual quê? Que raio de ideia uma pessoa querer um táxi por ali, junto à estação
de Peso da Régua!
Pronto. Ali também já não havia safa. O melhor... olha... era andarmos
daqui para fora.
Lá fomos nós rua abaixo e o Filipe a entrar em cafés e
restaurantes a perguntar se sabiam de um táxi. A resposta? Sempre a mesma.
"Oh amigo, não há táxis a esta hora..."
Epá... não eram 3 da matina, nem coisa que o valha! O
que se passa nesta terra? Então é assim que querem fomentar o turismo? Aquilo é
uma cidade ou um monte?
Continuámos a andar cidade fora (ou monte?), até que
aconteceu o que já era de esperar. O casal começou a discutir. E os miúdos
também a mandarem bitaites. Comecei a ficar para trás para não estar no meio
daquilo, mas foi pior. Eles paravam. Então optei pela técnica número 2: passei
para a frente a comandar as tropas.
Às tantas, os miúdos começaram a queixar-se que tinham fome. A
senhora do casal - vamos chamar-lhe Maria (aposto que não estou muito longe do
nome verdadeiro) - achou por bem pararmos para jantar. Sem nos apercebermos já
passava das 20h e com tantas andanças estávamos a precisar de recarregar
baterias. Se fosse eu com os meus filhos era o que fazia. Mas os homens não são
assim tão sensíveis nestas coisas.
Portanto, o Filipe não queria jantar. Qual quê?
Com alguma razão, queria era despachar o assunto e
arranjar um meio de voltar a Marialva.
Mais um motivo para discussão... claro está.
Fomos até à beira do Rio, onde estão os barcos das passeatas. Tudo
atracado, ninguém à vista. Só lá estava uma pessoa. Uma senhora, que deve ter
sido uma espécie de "enviada especial" ao nosso dispor.
A senhora estava sentada num banquinho de praia e
tinha à sua frente um género de bancada improvisada. em cima, peixe. A senhora
estava a vender peixe. Devia estar desfazada no tempo. Àquela hora já não se
trabalha em Peso da Régua, então?
O Filipe, como sempre determinado e sem perder a esperança,
perguntou-lhe também a ela se sabia onde podíamos apanhar um táxi.
Ah... um ponto importante nesta saga: obviamente não
havia autocarros àquela hora.
A senhora "vendedeira" sacou do seu
telemóvel do bolso (pode não haver mais nada, mas telemóveis é que não falha,
mesmo a uma xenhora de chechenta e oito anos). Ligou ao filho: «Oh Nuno,
estão aqui uns senhores aflitos, podes fazer um serviço? Desculpa lá. Vê lá se
podes sim?»
Aquela senhora salvou-nos.
Passado poucos minutos, o Nuno apareceu com o seu belo
táxi.
O Filipe perguntou-lhe quanto ficaria a viagem se nos
levasse até Marialva. ao que o Nuno respondeu que isso era impossível. Além de
ficar muito dispendioso, ele não podia ir até tão longe (não queria).
«Bem, então deixe-nos em São João da Pesqueira.
Conheço lá gente, alguma coisa se há-de arranjar».
No caminho o Filipe também sacou do seu telemóvel e falou com o
nosso anfitrião. Este último disse que ia jantar. Nada de pressas. Depois iria
buscar-nos «à Pesqueira».
Ficámos então a meio caminho, depois do Nuno nos ter
feito o especial favor de nos transportar e de levar de volta uns quarenta
euros. Vá lá... não foi mau. Mesmo. Estávamos a 89Km de Marialva e ficámos a
meio do caminho. Primeira etapa bem sucedida!
Quanto ao Filipe, lá teve que dar a mão à palmatória e tivemos mesmo
que ir jantar. O Nuno deixou-nos mesmo em frente a um restaurante que conhecia
e que sabia que estava a funcionar. Ainda.
Escusado será dizer que eu e os miúdos adorámos os
bitoques, que nos souberam a pato (bem, a mim mais a camarão - prefiro- não
gosto de pato).
Adorei o jantar, os ânimos até acalmaram. Fez-nos
bem, sim senhora.
Pouco depois de acabarmos a janta, surgiu o anfitrião.
Não me lembro de me ter pedido desculpa por ter
decidido repentinamente sair do comboio do Tua, mas posso estar a fazer
confusão.
Levou-nos a todos sãos e salvos até Marialva e isso é
que interessa.
Chegámos perto das 2h da manhã, mas isso não interessa
nada.
Quando cheguei já a festarola estava no fim. As minhas
amigas já tinham bebido e comido tudo pá!
Eu não estava com fome, mas se quisesse podia comer
umas sandes de fiambre. Bebida também já não havia.
As minhas amigas estavam muito alegres, uma delas
quase a dormir em pé e pouco depois quiseram ir deitar-se. Não houve festa para
mim. Contentei-me com a do comboio.
Mas esta foi uma viagem que me ficou cara. Sim, diverti-me. Mas sabem
aquela sensação que temos quando gastamos mais do que a conta e depois nos
arrependemos? Eu tive essa, quando cheguei. Afinal a vida tinha
que continuar e como é que eu ia fazer?
Já não estava nos meus melhores momentos financeiros e
não contava com isto.
Afinal, também participei nas compras do supermercado
e quase não comi nada disso por causa da aventura no comboio.
Gastei mais dinheiro nesse sábado, com o qual não
contava e para piorar, no fim, quando chegámos a Lisboa, o nosso anfitrião
pede-nos mais 80 euros para pagar a gasolina.
Eu refilei, mas lembro-me que a minha amiga Ana D. não
gostou.
A Cátia F. disse o mesmo que eu pensei para mim: «depenada
até ao fim do mês».
Até hoje não sei se foi certo ou errado.
Dizem que aquelas carrinhas gastam muito. Mas achei
que 80€ X 7 pessoas, talvez fosse demasiado. Digo eu. O anfitrião também foi,
deveria pagar a sua parte não?
Mesmo a multiplicar por 6 mulheres... acho muito. Acho
que já não tinha carro na altura, mas se soubesse era preferível ter levado
um.
Fora o que paguei do alojamento, foi um fim-de-semana
dispendioso porque não estava a contar com isto.
Serviu-me de emenda.
De tal modo, que até hoje, desde aquele Verão de 2011,
nunca mais fui de férias!
Ao menos que o alojamento tivesse piscina ou um
pequeno-almoço digno de um hotel de três estrelas. Mas só me lembro de comer
uma sandes de fiambre e de beber um café a essa hora da matina.
Mas sim, diverti-me. Até na parte do comboio. Adorei,
verdade seja dita.
Acho que a Ana D. ficou triste comigo porque achei aqueles dois dias
muito caros e refilei.
Para quem ganhava menos que o ordenado mínimo
nacional... (sim, acreditem que era o que eu estava a ganhar)... tudo é caro e
as continhas têm de ser todas muito bem feitinhas.
Por muita vontade que se tenha, por muito que se
precise de espairecer, falta o mais importante.
Como diz a Catarina Beato, «o dinheiro não traz
felicidade, mas facilita muita coisa» (já aqui o disse).
Quando não o
temos, nem queiram saber o stress que isso implica. Acho mesmo que já nem somos
as mesmas pessoas.
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