quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O NATAL E AS PRENDAS...




No meu tempo de miúda, falava-se pouco no Pai Natal.
Para mim, tal como para muitos da minha idade ou mais velhos, quem trazia as prendas era o Menino Jesus.
Mas sinceramente, não sei se esta ideia de haver um "ser" que nos dá prendas se nos portarmos bem... será uma boa ideia...
Bem... talvez seja. Assim as culpas daquilo que nos é oferecido vão para outras entidades e isso às vezes dá algum jeito.
Nã... Mas não me parece. 
Despachar o assunto com um Pai Natal ou um Menino que é Jesus, não me parece um bom exemplo para os nossos pequenitos.


A minha experiência talvez seja boa para a análise de um psicólogo. 
É que apesar de ser filha única, nunca me facilitaram a vida em termos de prendas. Essa é que é essa. Talvez por isso eu seja uma filha única fora do comum. Mimada q.b. Nada de muitas extravagâncias. 

Lembro-me sim, que em adolescente consegui queixar-me das prendas que não tive. E lembro-me que quando começaram as modas das marcas, a minha mãe resolveu indemnizar-me. 
Então, com 12 anos começou por levar-me aos Porfírios (lembram-se desta loja da moda?). Nunca mais me esqueci da primeira vez que lá fomos, de tão admirada que fiquei. E feliz. Eu pude escolher o que queria! Ia experimentar roupas e a minha mãe dizia: «fica-te muito bem. Gostas?» 
«Sim! Adoro!»
«Então dá cá»
A minha mãe já quase sem mãos ou ombros para segurar nas roupas e eu em êxtase!
Levei tudo o que me ficava bem e aquilo que realmente queria. 
Claro que, chegada a casa, tive que voltar a vestir tudo para o meu pai ver onde tinha sido gasto o dinheiro. 
Sim. Ele também gostou. Não houve problema.

Mais difícil foi quando comecei a pedir calças de ganga de 15 contos para cima (+ de 75€) ou qualquer peça de roupa que era sempre à volta destes valores (entre 75 e 100 euros). 
A minha mãe defendia-me: «realmente são calças muito bem feitas. Vê-se pelas costuras. Tudo direitinho...»... porque o meu pai perguntava: «20 contos por umas calças de ganga deslavadas? E rasgadas?»... e continuava: «com esse dinheiro comprava eu 5 pares de calças!»... e por aí fora...

Hoje também acho um bocado estúpido, mas vá-se lá entender estas coisas das modas...
Até por volta dos 18 anos lá fui conseguindo ter as roupitas, mas era chato ter que ouvir sempre aqueles comentários do meu pai que não entendia a grande qualidade daquelas roupinhas da MustangChevignonLevy's, ou outras como a Benetton e a Lanidor. Mas a minha mãe lá ia comigo para as Amoreiras ou para a Baixa de Lisboa fazer-me a vontade, quando achava por bem. 
O meu Pai, a certa altura, apesar dos comentários, rendeu-se. Isto porque um colega e seu amigo da Marinha, o Trigo (era o seu apelido) abriu uma loja (Trifanny) e começou a vender roupas de marca. Foi o meu pai que me levou lá a primeira vez. Gostava daquele colega e confiava nele. A loja até começou a ser conhecida e a partir daí o negócio do Trigo floresceu. Era mesmo moda! Abriu uma loja maior na mesma zona e mais tarde abriu lojas em tudo o que eram centros comerciais da moda em Lisboa e na margem sul.
Hoje em dia não sei o que é feito dele, porque ao que parece fechou algumas das lojas. A moda já não é o que era... E eu também me deixei de manias. 

Mas voltando ao Natal. Em pequena acreditei no Menino Jesus. Na altura, lá em casa, havia mesmo uma chaminé na cozinha e eu acreditava que Ele vinha por ali abaixo colocar as prendas em cima do fogão e no chão à sua volta!
Embora achasse aquilo meio estranho... "A que propósito é que ele deixava prendas no fogão e fugia?"...

Já não me lembro com que idade, estava eu ainda na escola primária e num dia 24 de Dezembro, veio o João, o filho de uma empregada do colégio e disse-me que isso não existia. 
- «Ainda acreditas que existe o Pai Natal?». 
-«O Pai Natal não. Mas existe o Menino Jesus», disse eu.
E o João desatou-se a rir na minha cara.
Eu não quis acreditar naquilo, mas fiquei "com a pulga atrás da orelha".

À noite, já em casa, pus-me "à coca" (não, nada dessas coisas que estão a pensar: pus-me em alerta, é isso). 
Então e não é que quando estávamos perto da meia-noite vejo uma grande azáfama dividida entre as minhas avós, a minha mãe e uma tia?
Mau!...
Fui para ir à cozinha e não me deixaram entrar! Mandavam-me para a sala e eu ia. Mas às tantas consegui surpreendê-las. Fui disparada quando estavam todas lá dentro fechadas e entrei!

Mas afinal, a surpresa foi minha! Ali estavam elas, a tirar presentes de sacos e a colocá-los em cima do fogão e à volta dele. 
Desatei a chorar de desilusão. Afinal o João tinha razão!

Passado o choque e a explicação de que não fazia mal, que afinal eram as pessoas que gostavam de mim que me ofereciam os presentes de Natal, lá me recompus e lá abri as prendas e esqueci o assunto do Menino Jesus.

Mas vendo bem, antes disso, nos outros anos, o Natal também era afinal, doloroso em termos de prendas: eu pedia uma Barbie e recebia uma Nancy, eu pedia um Careca que chorasse e recebia um Careca que não fazia nada, eu pedia uma bicicleta da Vilar com grelha atrás e recebia uma bicicleta da Vilar sem grelha para levar o cestinho. E era sempre assim. 
Sim, tinha muitos brinquedos, mas nunca eram exactamente aquilo que eu queria ter. Eram sempre uma imitação, uma espécie daquilo que eu pretendia... "Ah... por isso é que Ele fugia! O malvado!"

E o que é que resultava daí? 
Para mim, o Menino Jesus era um bocado sarcástico. Gostava de gozar comigo. Não era lá grande coisa. Era um Menino do género do João, que gostava sempre de me desiludir. O João mais velho do que eu, tinha que me mostrar os seus conhecimentos. Mas da pior forma. Feitios!...
E o Menino Jesus devia ser amigo dele...

Digamos que afinal, o Menino Jesus era alguém injusto para mim. 
Se eu era a melhor aluna, bem comportadinha, fazia tudo o que me diziam dentro das regras da boa educação e dos bons costumes, porque é que a mim Ele me fazia uma coisa daquelas?... E a algumas amigas que até se portavam mal, muito mais traquinas, dava tudo o que elas pediam?

A verdade é que eu continuava sempre na esperança de que um dia o Menino Jesus fizesse justiça. Era isso.
E quando descobri a verdade (que Ele não existia), até foi para mim um alívio. Afinal esse Menino não tinha nada a ver com o assunto! 
E agora eu podia "azucrinar" os meus pais muito mais vezes! Estava com eles todos os dias, ora bolas! Assim até era bastante mais fácil! Com o Menino Jesus eu não tinha grandes confianças... Ele era um bocado reservado e não dava para conversar e explicar-lhe as minhas motivações...
E depois, quanto às restantes pessoas, eu podia estar muito mais grata por saber que me davam presentes que eu até gostava. Quando as via, podia agradecer-lhe e dizer-lhes o quanto eu tinha gostado das suas prendas. A Lili era uma delas. Colega e amiga da minha mãe, dava-me sempre as prendas que eu mais gostava. Conhecia-me tão bem que sabia exactamente o que me oferecer, como se um dos filhos de tratasse. Uma cozinha, uma cama de bebé do tamanho ideal para o Careca, um parque à mesma escala... coisas que adorei.

Adeus Menino Jesus, adeus Pai Natal
Bem-vindos os amigos e a família! (esta no meu caso, foi desaparecendo, por isso deixei de gostar do Natal - Já não tenho uma casa cheia... e ainda sinto um vazio - este ano pior ainda - está o vazio do meu Pai).

A época do consumismo já é antiga. Já existia há 30 anos atrás e foi aumentando. Acho que no entanto, as mentalidades já estão a mudar. À força das circunstâncias, mas já se pensa mais nos sentimentos novamente.

Sei que parece uma frase feita, um "lugar-comum", e tudo e tudo e tudo... mas mesmo assim deixo-vos aqui um conselho (ok, sei que não o pediram, mas dou na mesma).
Por experiência própria vos digo:

Dar valor à amizade e ao amor é o mais importante. O tempo não volta atrás. É mesmo assim sim senhora. Não percam tempo, nem oportunidades. Nesta altura, assim como assim, estejam com aqueles que mais gostam e divirtam-se. Vivam o momento e partilhem gargalhadas. 
As prendas, damo-las quando queremos e nos é possível, em qualquer altura, em qualquer lugar! Deixem-se de tantas preocupações com isso. Dêem acima de tudo, o que há de melhor em vocês meus amigos. Partilhem o que de bom temos em cada um de nós!

Boas Festas!!!



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